domingo, 26 de fevereiro de 2012


1) Quem é Émile Durkheim?
         Émilie Durkheim nasceu na cidade de Épinal (região de Lorena, França) no dia 15 de abril de 1858. Faleceu e Paris, em 15 de novembro de 1917. É considerado um dos pais da sociologia moderna.
          Na adolescência, presenciou uma série de acontecimentos que marcaram decisivamente todos os franceses em geral e a ele próprio em particular: em 1º de setembro de 1870, a derrota de Sedan; em 28 de Janeiro de 1871, a capitulação diante das tropas alemãs; de 18 de março a 28 de maio, a insurreição da Comuna de Paris; em 4 de setembro, a proclamação do que ficou conhecido como a III República, com a formação do governo provisório de Thiers até a votação da Constituição de 1875 e a eleição do seu primeiro presidente (Mac-Mahon).
          Porém, a vida de Émile Durkheim foi marcada pela disputa franco-alemã em 1871, com a perda de uma parte de Lorena, sua terra natal que tornou-se fronteiriça, com o advento da Primeira Guerra Mundial, ele viu partir para a linha de frente numerosos discípulos seus, alguns dos quais não regressaram, inclusive seu filho Andrés, que parecia destinado a seguir a carreira do pai.
          Estes acontecimentos marcantes refletem diretamente em suas obras, ou pelo menos em suas aulas. O ambiente é por vezes assinalado como sendo o "vazio moral da III República", marcado seja pelas consequências diretas da derrota francesa e das dividas humilhantes da guerra, seja por uma série de medidas de ordem política como: a lei de Naquet que instituiu o divórcio na França e a questão apresentada na assembléia em 1879 representada pela instrução laica, foi quando a escola se tornou gratuita para todos, obrigatória dos 6 aos 13 anos, além de ficar proibido formalmente o ensino da religião. O vazio correspondente à ausência do ensino da religião na escola pública tenta-se preencher com uma pregação patriótica representada pela que ficou conhecida como "instrução moral e cívica".
          Ao mesmo tempo em que essas questões políticas e sociais balizavam o seu tempo, outra questão de natureza econômica e social não deixava de apresentar continuadas repercussões politicas é o que se denominava questão social, ou seja, as disputas e conflitos decorrentes da oposição entre o capital e o trabalho valem dizer, entre patrão e empregado, entre burguesia e proletariado.
         Apesar dos traumas políticos e sociais que assinalam o final do século XIX e começo do século XX correspondem a uma certa sensação de euforia, de progresso e de esperança no futuro, se bem que os êxitos econômicos não fossem de tal ordem que pudessem fazer esquecer a sucessão de crises, registrava-se uma série de inovações tecnológicas que provocavam repercussões imediatas no campo econômico que convencionou-se chamar de segunda revolução industrial.
          Enfim, Durkheim foi um homem que assistiu ao advento e à expansão do neocapitalismo. Ele não resistiu aos novos e marcantes acontecimentos políticos representados pela Primeira Guerra Mundial, com o aparecimento simultâneo tanto do socialismo na Rússia como da nova roupagem do neocapitalismo.
          De família judia, seu pai era rabino e ele próprio teve seu período de misticismo, tornando-se agnóstico após a ida para Paris.
Na École Normael Supérieure vai se encontrar com alguns homens que marcaram a sua época, ele entra em 1879 e sai em 1882, portando o título de Agrégré de Philosophie (Formado em Filosofia).
Ali se tornara amigo íntimo de Jaurés e de Bergson, dois colegas que se notabilizaram, o primeiro como filósofo, mas, sobretudo como líder socialista, que se popularizou como defensor de Dreyfus e acabou por ser assassinado em meio ao clima de tensão politica às vésperas da deflagração da guerra em 1914, o segundo, filósofo de maior expressão, adotou uma linha menos participante e muito mistica, alccançou os píncaros da glória, nas Academias, no Collége de France, na Sociedade das Nações e como Premio Nobel de Literatura em 1928.
          Entre esses dois homens, tão amigos más tão adversos, Durkheim permaneceu no meio termo num plano mais discreto. O diretor da Normale era Bersot, crítico literário preocupado com a velha França e que chama a atenção do jovem Émile para a obra de Montesquieu. Sucede-o na direção Fustel de Coulanges, historiador de renome que influencia o jovem Émile no estudo das instituições da Grécia e Roma. Ainda como mestres sobressaem os neokatianos Renouvier e, sobretudo Boutroux.
          Durante os anos em que ensinou Filosofia em vários liceus, volta seu interesse para Sociologia. A França não oferecia ainda um ensino regular dessa disciplina, que sofreu tanto a reação antipositiva do fim do século como uma concepção de que a Sociologia constituía uma forma científica de socialismo.
Para compensar essa deficiência específica de formação, Durkheim tirou um ano de licença (1885-86) e se dirigiu à Alemanha, onde assistiu aulas de Wundt e teve sua atenção despertada para as “ciências do espírito” de Dilthey, para o formalismo de Simmel, além de tomar conhecimento direto da obra de Tönnies, que lançara sua tipologia da Gemeinschaft e Gesellschaft. Mas é surpreendente verificar-se que, apesar de certa familiaridade com a literatura filosófica e sociológica alemã, Durkheim não chegou a tomar conhecimento da obra de Weber, e foi por este desconhecido também. Isto não impede a Nisbet de dizer que Durkheim, em companhia de Weber e Simmel, tenha sido responsável pela reorientação das ciências sociais no século XX.
Achava-se, portanto, plenamente habilitado para iniciar sua carreira brilhante de professor universitário, ao ser indicado por Liard e Espinas para ministrar as aulas de Pedagogia e Ciência Social na Faculté de Lettres de Bordeaux, de 1887 a 1902. Foi este o primeiro curso de Sociologia que se ofereceu numa universidade francesa.
Nessa cidade, tão voltada para o comércio do Novo Mundo, florescera um espírito burguês e republicano, simultâneo com a manutenção do racionalismo cartesiano. Aí o jovem mestre encontrou condições adequadas para produzir o grosso de sua obra, a começar por suas teses de doutoramento. A tese principal foi De la division du travail social (A Divisão do Trabalho Social). Logo após, em 1895, publicou Les régles de la méthode sociologiquee, apenas dois anos depois, Le suicide. Assim, num período de somente seis anos, foram editados praticamente três quartos da obra sociológica de Durkheim, que demonstra uma extraordinária fecundidade teórica.
Talvez o curto lapso de tempo entre suas principais obras tenha propiciado uma notável coerência na elaboração e na aplicação de uma metodologia com sólidos fundamentos teóricos.
O que surpreende ainda em sua trajetória intelectual não é só a referida fecundidade, mas, sobretudo a relativa mocidade com que produziu a maior parte de sua obra. Fora para Bordeaux aos 30 anos incompletos e, no decorrer de uma década, já havia feito o suficiente para se tornar o mais notável sociólogo francês, depois que Comte criara esta disciplina.
Sua primeira aula na universidade versou sobre a solidariedade social, refletindo uma preocupação muito em voga na época. Além disso, a solidariedade constitui o ponto de partida não apenas de sua teoria sociológica, mas também da primeira obra estritamente sociológica que publicou.
Sua intensa atividade intelectual pode ser comprovada também pela iniciativa, tomada em 1896, de fundar uma grande revista, qual seja, L’Année Sociologique.
Em Bordeaux teve como colegas os filósofos Hamelin e Rodier, este comentarista de Aristóteles e aquele, discípulo de Renouvier, tendendo, porém, mais para o idealismo hegeliano do que para o criticismo kantiano. Ao deixar essa cidade, sucedeu-o Gaston Richard, seu antigo colega na Normale, mas que, dissidente mais tarde de L’Année, veio a se tornar um dos maiores críticos de Durkheim. Este, por sua vez, empreende sua segunda migração da província para a capital.
Em Paris é nomeado assistente de Buisson na cadeira de Ciência da Educação na Sorbonne, em 1902. Quatro anos após, com a morte do titular, assume esse cargo. Mantém a orientação laica imprimida por seu antecessor, mas em 1910 consegue transformá-la em cátedra de Sociologia que, pelas suas mãos, penetra assim no recinto tradicional da maior instituição universitária francesa, consolidando, pois o status acadêmico dessa disciplina. Suas aulas na Sorbonne transformaram-se em verdadeiros acontecimentos, exigindo um grande anfiteatro para comportar o elevado número de ouvintes, que afluíam por vezes com uma hora de antecedência para obter um lugar de onde se pudesse ver e ouvir o mestre, já então definitivamente consagrado.
O ambiente intelectual foi para Durkheim o mesmo que a água para o peixe, o que ele herdou de seu pai e transmitiu aos seus filhos. Seu filho, morto na guerra, preparava um ensaio sobre Leibniz. Sua filha casou-se com o historiador Halphen. Seu sobrinho Marcel Mauss tornou-se um dos grandes antropólogos, colaborador e co-autor de “De quelques formes primitives de classification”. A família praticamente se estende aos seus discípulos, que se notabilizaram nos estudos sobre a Grécia (Glotz), os celtas (Hubert), a China (Granet), o Norte da África (Maunier), o direito romano (Declareuil). Os mais numerosos tornam-se membros da que ficou conhecida como Escola Sociológica Francesa: além de Mauss, Fauconnet, Davy, Halbwachs, Simiand, Bouglé, Lalo, Duguit, Darbon, Milhau etc. Trata-se na verdade de uma escola que não cerrou as portas.


Fonte: http://www.culturabrasil.org/durkheim.htm.




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